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Dizia a manchete no jornal: Cachorro atira no dono. E fiquei a imaginar: deve ter sido um pit-bull. Ou então, um vira-lata maltratado pelo dono. Mas, espere... Um vira-lata não atiraria no dono, porque é cachorro de pobre. O máximo que ele poderia fazer é dar uma facada, ou peixeirada, como se diz no Nordeste. Deve ter sido coisa de cachorro de rico, que tem dog-training, comida especial, controle vitamínico, psicólogo (imagine um cachorro deitado num divã fazendo uma regressão, ou contando seus problemas com a cadela da vizinha), quarto exclusivo e todo um aparato para não deixá-lo estressado. O cachorro de rico entra em depressão, fica triste, perde o apetite e passa para uma abstinência sexual voluntária. E pelo visto, cachorro da elite agora tem até professor de tiro, provavelmente para não precisar morder o ladrão e dessa forma não estragar os dentes. De longe, é só atirar.
Já o cachorro de pobre, o nosso conhecido VL, “tem disso não”. Às vezes nem dono tem. Se não tem dono, é evidente que não teria nenhum tratamento diferenciado. Mas, tem um detalhe: se houvesse vestibular para cachorro, o vira-lata passaria com facilidade e o de rico teria que ir para uma universidade particular. É que o nosso vira-lata é inteligente, aprendeu com a vida. Já observaram um vira atravessando a rua? Pois é, ele primeiro olha para ver se não vem carro. Já o cachorro de rico quando se solta, sai “desembestado” correndo de um lado para o outro, sem saber para onde ir, feito um abestalhado. Outra coisa, o cachorro de pobre quando sente algum perigo, bota logo o rabo entre as pernas. Todo mundo pensa que é medo. Nada disso. É esperteza, para evitar sofrer um estupro. Já imaginou um cão fila, que vive preso, há vários meses sem visita íntima, encontrando o pobre do vira-lata desprevenido? Tragédia na certa. Para evitar esse tipo de atentado é que o “vira”, ao primeiro sinal de perigo, protege logo a retaguarda. Já o dobberman, aquele do rabo “cotó”, leva desvantagem. Na hora “H”, cadê o rabo para proteger as partes?
Mas, vamos voltar à manchete do jornal. Pensei na vítima do tiro chegando ao hospital, baleado na região glútea e ainda na maca (no corredor, é claro), o policial de plantão perguntando:
___O senhor viu quem deu o atiro?
___Foi o cachorro __ responde o baleado.
___ Meu senhor, tá certo que a pessoa que atira em outro pelas costas realmente é um cachorro. Mas quem foi meliante que atirou no Senhor? __insiste o policial.
__Já falei. Foi um cachorro. E quando eu sair daqui vou matá-lo. __ diz a vítima.
__Peraí. O senhor não pode fazer isso não. Deixe que a polícia toma conta do caso. Mas, eu estou tomando o seu depoimento para fazer o BO e preciso saber quem atirou no senhor, para a gente prender o elemento.
__Olhe aqui soldado, quem atirou em mim foi o meu cachorro, que estava no banco de trás do carro.
___Você tá tirando onda com a autoridade? Vai querer me dizer que o seu cachorro pegou o revolver e lhe deu um tiro? Vai ver que você andou maltratando o bicho. __insistiu o soldado, já bastante irritado.
___Ai, Ai, A! Tá doendo! Seu guarda, o revólver estava no banco de trás. O cachorro não precisou pegar arma nenhuma. Mas, foi ele quem atirou. Agora, posso ser atendido?
___Ainda não, pois a sala de cirurgia está ocupada. Enquanto isso, me “arresponda” uma coisa: o senhor ensinou o cachorro a atirar ou ele aprendeu sozinho? ___ disse o soldado, ainda incrédulo com a história.
___O caso foi o seguinte. Eu tive que sair de casa e levar o cachorro para o veterinário e coloquei o cachorro no banco de trás do carro e esqueci que tinha colocado o revólver também lá. E saí apressado. O cachorro começou a andar no banco e pisou no revolver e ele disparou me atingindo na bunda.
___E agora? Dou voz de prisão ao cachorro por tentativa de homicídio ou porte ilegal de arma?
E foi dessa maneira que, pela primeira vez, um cachorro atirou no dono. Também vem provar a teoria de que cachorro de rico é abestalhado mesmo. Não sabe nem onde pisa e ainda atira no dono. Duvido que um vira-lata atire no dono. Pode no máximo, na melhor das hipóteses, morder a sandália japonesa do dono, de fome.
Tasso Soares de Lima
5 Comments:
Mas responda uma coisa: o cachorro foi indiciado? Hehehehe!
Muito boa, Tasso! Me pergunto se a notícia é verdadeira ou não... vez por outra eu fazia crônicas a partir de notícias, na coluna que mantinha no Nominuto. É um exercício interessante.
Quem faz isso na Folha, se não me engano, é Moacyr Scliar.
Vinicius, realmente saiu no jornal essa notícia. Como também no livro tem uma outra crônica que é baseada em uma nota da revista Veja,de 2004, que fala sobre a escolha do animal símbolo do Distrito Federal. O nome da crônica é O PEIXE SUSPEITO. Valeu pela visita e leia o livro que as crônicas é no mesmo estilo da crônica publicada no blog.
Valeu, Menna!!
Tasso O Crônico
Parabéns, Tasso. Você, realmente, tem um grande talento para tratar os causos da vida.
Valeu, Pedro! A idéia é sempre divertir o leitor. Essa é a proposta. Se conseguir isso, o resto é complemento.
Um abraço.
Tasso Soares
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