terça-feira, 24 de junho de 2008

CACHORRO ATIRA NO DONO

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Dizia a manchete no jornal: Cachorro atira no dono. E fiquei a imaginar: deve ter sido um pit-bull. Ou então, um vira-lata maltratado pelo dono. Mas, espere... Um vira-lata não atiraria no dono, porque é cachorro de pobre. O máximo que ele poderia fazer é dar uma facada, ou peixeirada, como se diz no Nordeste. Deve ter sido coisa de cachorro de rico, que tem dog-training, comida especial, controle vitamínico, psicólogo (imagine um cachorro deitado num divã fazendo uma regressão, ou contando seus problemas com a cadela da vizinha), quarto exclusivo e todo um aparato para não deixá-lo estressado. O cachorro de rico entra em depressão, fica triste, perde o apetite e passa para uma abstinência sexual voluntária. E pelo visto, cachorro da elite agora tem até professor de tiro, provavelmente para não precisar morder o ladrão e dessa forma não estragar os dentes. De longe, é só atirar.

Já o cachorro de pobre, o nosso conhecido VL, “tem disso não”. Às vezes nem dono tem. Se não tem dono, é evidente que não teria nenhum tratamento diferenciado. Mas, tem um detalhe: se houvesse vestibular para cachorro, o vira-lata passaria com facilidade e o de rico teria que ir para uma universidade particular. É que o nosso vira-lata é inteligente, aprendeu com a vida. Já observaram um vira atravessando a rua? Pois é, ele primeiro olha para ver se não vem carro. Já o cachorro de rico quando se solta, sai “desembestado” correndo de um lado para o outro, sem saber para onde ir, feito um abestalhado. Outra coisa, o cachorro de pobre quando sente algum perigo, bota logo o rabo entre as pernas. Todo mundo pensa que é medo. Nada disso. É esperteza, para evitar sofrer um estupro. Já imaginou um cão fila, que vive preso, há vários meses sem visita íntima, encontrando o pobre do vira-lata desprevenido? Tragédia na certa. Para evitar esse tipo de atentado é que o “vira”, ao primeiro sinal de perigo, protege logo a retaguarda. Já o dobberman, aquele do rabo “cotó”, leva desvantagem. Na hora “H”, cadê o rabo para proteger as partes?

Mas, vamos voltar à manchete do jornal. Pensei na vítima do tiro chegando ao hospital, baleado na região glútea e ainda na maca (no corredor, é claro), o policial de plantão perguntando:

___O senhor viu quem deu o atiro?

___Foi o cachorro __ responde o baleado.

___ Meu senhor, tá certo que a pessoa que atira em outro pelas costas realmente é um cachorro. Mas quem foi meliante que atirou no Senhor? __insiste o policial.

__Já falei. Foi um cachorro. E quando eu sair daqui vou matá-lo. __ diz a vítima.

__Peraí. O senhor não pode fazer isso não. Deixe que a polícia toma conta do caso. Mas, eu estou tomando o seu depoimento para fazer o BO e preciso saber quem atirou no senhor, para a gente prender o elemento.

__Olhe aqui soldado, quem atirou em mim foi o meu cachorro, que estava no banco de trás do carro.

___Você tá tirando onda com a autoridade? Vai querer me dizer que o seu cachorro pegou o revolver e lhe deu um tiro? Vai ver que você andou maltratando o bicho. __insistiu o soldado, já bastante irritado.

___Ai, Ai, A! Tá doendo! Seu guarda, o revólver estava no banco de trás. O cachorro não precisou pegar arma nenhuma. Mas, foi ele quem atirou. Agora, posso ser atendido?

___Ainda não, pois a sala de cirurgia está ocupada. Enquanto isso, me “arresponda” uma coisa: o senhor ensinou o cachorro a atirar ou ele aprendeu sozinho? ___ disse o soldado, ainda incrédulo com a história.

___O caso foi o seguinte. Eu tive que sair de casa e levar o cachorro para o veterinário e coloquei o cachorro no banco de trás do carro e esqueci que tinha colocado o revólver também lá. E saí apressado. O cachorro começou a andar no banco e pisou no revolver e ele disparou me atingindo na bunda.

___E agora? Dou voz de prisão ao cachorro por tentativa de homicídio ou porte ilegal de arma?

E foi dessa maneira que, pela primeira vez, um cachorro atirou no dono. Também vem provar a teoria de que cachorro de rico é abestalhado mesmo. Não sabe nem onde pisa e ainda atira no dono. Duvido que um vira-lata atire no dono. Pode no máximo, na melhor das hipóteses, morder a sandália japonesa do dono, de fome.

Tasso Soares de Lima